A delegação do Amazonas deu um show de técnica e competitividade durante disputa do Campeonato Sul-Americano de Judô da classe Veteranos, realizado no período de 11 a 15 de maio, na área de eventos do Shopping Paralela, na cidade de Salvador, na Bahia.
Os sete atletas do Amazonas, que também integraram a Seleção Brasileira de Judô obtiveram o resultado expressivo conquistando 11 medalhas, sendo quatro de ouro, uma de prata e seis de bronze durante disputas acirradas dos três torneios internacionais, o Campeonato Pan-americano de Veteranos e Kata, Campeonato Sul-americano de Veteranos e o Pan-americano Open.
As competições contaram com a chancela da Confederación Pan-americana de Judô e da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e selos da Federação Internacional de Judô (IJF).
Os atletas representando a Federação de Judô do Amazonas (FEJAMA) ficaram orgulhosos com a estreia do judoca Ricardo Nascimento que em sua primeira participação em eventos internacionais disputou a medalha de bronze no Sul-Americano e no Pan-americano Open.
Mas se dentro do tatame os atletas deram um show de técnica e espírito esportivo, fora dele o judô do Amazonas tem sofrido um duro golpe, que é a falta de patrocínio. Para driblar essa realidade e conquistar um Ipppon (o chamdo “nocaute”, ou seja, o golpe perfeito que determina o fim da luta), esses guerreiros têm feito um esforço gigantesco para representar o Estado do Amazonas sem patrocínio ou ajuda governamental.
O PORTAL BLITZ AMAZÔNICO entrevistou esses atletas para conhecer um pouco dessa realidade e chamar atenção do poder público para olhar com mais carinho para nossos verdadeiros guerreiros do Judô.
Um exemplo disso é a história do atleta Ricardo Nascimento que sem contar com o incentivo governamental ou de empresas conseguiu participar das competições na capital baiana e obteve bons resultados.
“Eu me chamo Ricardo Nascimento, tenho 41 anos de idade, sou faixa marrom, sou atleta veterano do Estado do Amazonas, as minhas maiores dificuldades para participar dessas competições internacionais como Pan-americano, Sul-Americano e Open de judô que aconteceram em Salvador, nesse mês de maio, foi a questão de arrumar alguém que apoiasse a causa, políticos, empresários não apoiam o esporte. Então eu tive que fazer rifa, contar com os amigos, tirar dinheiro do próprio bolso, gastei um valor que sinceramente é fora do comum. Para se ter uma ideia dos custos envolvidos no comprar da passagem, custear estadia, alimentação, transporte somaram cerca de R$ 7 mil reais, não sei como aconteceu, mas acho que Deus queria muito que eu fosse e com a ajuda dos amigos, da família foi possível garantir minha presença em Salvador. Mas lembrando que sem apoio do Governo, sem apoio de políticos, de empresas, da iniciativa privada, não é fácil fazer essas viagens. Mas enfim, fomos e voltamos com grandes resultados, eu participei das três competições do Pan-americano, do Sul-Americano e do Open e consegui bons resultados, não fui ao pódio, mas a experiência que trago na bagagem é muito grande, ficar em quinto no Pan-americano, quinto no Sul-Americano e em sétimo no Open é assim, surreal, coisas que eu nunca tinha vivido e eu estou muito feliz com isso, espero assim agora poder ir para o Campeonato Brasileiro e quem sabe, estar no pódio com esses grandes atletas veteranos. Desde já muito obrigado a todos por todo apoio e respeito e até o brasileiro em Joinville, se assim Deus quiser”, disse confiante.
O atleta Manauara Eduardo da Silva Ribeiro fez um desabafo com relação aos desafios enfrentados para performar na competição internacional realizada em Salvador e mesmo lesionado conseguiu conquistar medalha.
“Meu nome é Eduardo da Silva Ribeiro mais conhecido como Eduardo Ribeiro, sou faixa preta segundo dan de judô, participo da seleção amazonense de veteranos, fui vice-campeão Sul-Americano em 2009, terceiro lugar em 2010 e voltei a competir esse ano. A maior dificuldade nossa realmente é sair do estado e os custos dessas competições, porque nós não tivemos apoio, praticamente eu tive que bancar todas as minhas despesas, do meu bolso mesmo, com muita dificuldade, parcelando em cartão enfim, pedindo ajuda de amigos e esse é o nosso grande desafio, pois a gente mora longe tudo é caro. Nesse campeonato específico nós tivemos ainda que pagar inscrição, fazer a filiação na Confederação Pan-Americana que teve uma taxa de US$100 dólares, a inscrição no campeonato também foi em torno de US$100 dólares, então isso aí é difícil se você não tiver apoio e muitas vezes inviabiliza a nossa partição em grandes campeonatos. Nessa competição realizada em Salvador eu pessoalmente tive a dificuldade de ter me machucado, lesionado o posterior da coxa, mas mesmo contundido no primeiro dia de competição, os outros dias eu ainda consegui duas medalhas de bronze. Mas a dificuldade realmente é o apoio aos atletas e que o governo olhe com carinho para quem decide representar o Estado do Amazonas”, desabafou.
Um exemplo de vida e desportista no Amazonas, o atleta Airton Leite teve que tirar do próprio bolso e contar com a ajuda de amigos e alunos para garantir presença nos duelos realizados no tatame instalado no Shopping Paralela, em Salvador.
“Meu nome é Airton Leite sou atleta de judô, dos veteranos na categoria M6 (66kg) , tenho 59 anos, participei dos três campeonatos internacionais que aconteceu em Salvador, Pan-americano, Sul-Americano e Open de Judô, onde fui medalhista no Open. A minha maior dificuldade foi não ter patrocínio, precisei parcelar as passagens aéreas parcelando em 10 vezes, minhas inscrições no campeonato e despesas de estadia eu consegui com alguns alunos de judô que eu dou aula, fizeram uma cotinha e pagaram as minhas inscrições. Para se ter uma noção meus custos de hospedagem eu ainda estou pagando parcelado em dez vezes. A dificuldade é essa não termos patrocínio, não termos ajuda financeira”, contou.
Realidade diferente do judoca Alexandre Leocádio, categoria M3 (73 quilos), que felizmente nessa fase de sênior não depende de ajuda governamental, mas mesmo assim revelou os desafios que teve para chegar em condições de disputa em Salvador.
“Eu tenho um bom tempo competindo nos veteranos e na época que era juvenil e júnior eu sempre tive dificuldades com passagem, sempre dependendo de governo e no veterano, graças a Deus eu não tenho essa preocupação de depender de governo, eu sempre arquei com meus custos, claro que se houvesse um patrocínio seria bem melhor. Mas quando a gente arca com os custos, por gostar mesmo, por amar o esporte, você consegue ter um tempo hábil para treinar. Já quando você depende de passagem fica complicado, porque você não sabe se treina ou se sua preparação será em vão, pois as passagens sempre saem em cima da hora, quando saem. Para mim a minha maior dificuldade foi ficar em condições de competir porque eu estava com 80 quilos e realmente eu não iria competir, mas em cima da hora com alguns amigos, família incentivando eu decidir participar. Então foi correr contra a balança, recuperar de uma lesão que já estava tratando há mais de um mês. Eu cheguei na competição com o intuito de não lesionar, mas eu não consegui, acabei me machucando. O campeonato, como experiência em Salvador foi ótimo, muito bem organizado, eu já venho de alguns campeonatos Pan-americano, na Argentina, no Chile, então o campeonato estava bem mais organizado, inclusive as medalhas sem comparação a que eu ganhei na Argentina, no Chile eram bem pequenininhas. Só tenho a elogiar, tomara que os próximos sejam desse mesmo nível”, ressaltou.
E quem também não teve vida fácil para competir na capital baiana foi Gláucio Mendonça integrante da seleção amazonense que participou do Pan-americano, do Sul-Americano e do Panamérica Open Petrans.
“Eu tive dificuldades imensas para competir, agradeço meus alunos e amigos, só consegui por causa deles, lógico a gente quando recebe um apoio desse, a gente se sente obrigado a conquistar o melhor resultado e graças a Deus, na medida do possível, consegui ser bronze no Pan-americano, bronze no Sul-Americano e fui campeão do Panamérica Opens. Por nós morarmos em Manaus as coisas são muito complicadas, nós só podemos sair daqui de avião e quando a gente tem uma competição nacional ou internacional, dificilmente vai contar com o apoio do governo do estado ou da prefeitura. E aí realmente é contar com o nosso próprio bolso, com a ajuda de amigos e alunos que possibilitaram a minha ida. A gente chegou em Manaus com as medalhas, nosso objetivo principal é incentivar nossos alunos a continuarem lutando e já começa a batalha para tentar ir para o brasileiro, em Joinville. A gente sabe que é complicado, mas não podemos desanimar até porque a palavra orienta, mas o exemplo arrasta e nós temos que mostrar sempre confiante para os nossos alunos, para que eles não deixem apagar a centelha do judô”, ensinou.
Uma das raras exceções de ajuda governamental aconteceu com o atleta de Tabatinga que além das dificuldades de deslocamento, passagens aéreas, hospedagem e alimentação revelou outro desafio enfrentado para um atleta de alto nível, confira.
“Meu nome é Guilherme Freire tenho 36 anos e moro na cidade de Tabatinga no Amazonas, cidade que fica a 1.000 quilômetros de distância de Manaus, onde os principais meios de transporte são fluviais. A viagem do município até a capital Manauara dura cinco dias de barco. Para garantir minha presença no campeonato Pan-americano, Sul-Americano e Open Pan-americano foi muito difícil e teria sido impossível sem o apoio do governo do estado que disponibilizou as passagens aéreos e da Prefeitura Municipal que disponibilizou ajuda de custo para poder participar desse evento. Além de vários amigos que fizeram vaquinha para poder dar esse apoio. Aqui nossa dificuldade – além do deslocamento – também é recurso humano. Porque até iniciarmos o projeto aqui na cidade não existia judô. Então, para aumentar a qualidade técnica do meu judô eu tenho muita dificuldade porque eu não tenho atletas de alto nível para poder aprimorar essas técnicas”, desabafou o judoca que teve apoio da Fundação Amazonas de Alto Rendimento (FAAR).
Apesar de todos os desafios e dificuldades de apoio, os guerreiros do Amazonas foram coroados com 11 medalhas, além de boas colocações de quem não subiu ao pódio, mas que fez bonito na terra do dendê.
“A experiência foi maravilhosa porque a gente conseguiu competir com atletas de diferentes níveis, tanto nacional, como campeão mundial, campeão brasileiro. Pudemos testar os nossos limites, melhorar o nosso judô e isso é muito importante, esse intercâmbio já que nós vivemos em um estado que é o mais afastado, a capital mais afastada e tudo é dificultoso, até para a gente poder competir com os atletas dos grandes centros, então foi válida a experiência, pois tivemos contato com atletas de outros países inclusive”, destacou o atleta Eduardo Ribeiro.
Confira o quadro de medalhas dos atletas amazonenses:
CAMPEONATO PAN-AMERICANO DE VETERANOS
Iuri Narciso – Ouro
Gláucio Mendonça – Bronze
CAMPEONATO SUL-AMERICANO DE VETERANOS
Iuri Narciso – Ouro
Gláucio Mendonça – Bronze
Eduardo Ribeiro – Bronze
PAN-AMERICANO OPEN VETERANOS 2022
Iuri Narciso – Ouro
Gláucio Mendonça – Ouro
Alexandre Leocádio – Prata
Eduardo Ribeiro – Bronze
Airton Leite – Bronze
Guilherme Martinez – Bronze