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GOVERNADOR DO ESTADO PREFERE EXPANDIR BUMBÓDROMO AO INVÉS DE CONTER CRISE DE ÁGUA EM PARINTINS

Enquanto o Amazonas se prepara para enfrentar uma das piores crises de estiagem da sua história recente, a população de Parintins é presenteada com uma notícia de tirar o fôlego – e não é pela falta d’água. Na última sexta-feira (28), o governador do estado anunciou, em grande estilo, a tão aguardada ampliação do Bumbódromo. Sim, o mesmo Bumbódromo onde Caprichoso e Garantido duelam no Festival de Parintins. Parece que a prioridade do momento é garantir mais espaço para a torcida e não para os reservatórios de água.

E qual o melhor momento para uma coletiva de imprensa do que durante o intervalo entre as apresentações dos bois na primeira noite do evento? Nada como aproveitar um público já engajado e, claro, a presença massiva da imprensa. Realizada no intervalo das apresentações dos bois, contou com a presença de figuras ilustres como Marcelo Freixo, do governo federal, e os bolsonaristas Débora Menezes e Delegado Péricles, que tiveram que engolir elogios ao presidente Lula enquanto sorriam amarelo. O prefeito de Parintins, Bi Garcia, também estava lá, mas parecia ter esquecido sua voz em casa. Quem roubou a cena foi a vereadora e pré-candidata a prefeita Brena Dianná, do grupo do governador, que circulava confiante entre as lideranças políticas.

Segundo o governador do Amazonas, a obra está prevista para começar em 2026. Até lá, haverá um edital para a contratação da empresa responsável pelo projeto, além de reuniões com a Prefeitura de Parintins, a diretoria dos bois e, claro, artistas do festival. A população de Parintins também será consultada, porque nada é mais importante do que ouvir o povo… depois de já ter anunciado tudo, é claro.

A reforma promete aumentar a capacidade do Bumbódromo para 26 mil pessoas, ampliar o espaço das “galeras” (as torcidas dos bois que entram gratuitamente e contam pontos na apuração), e incrementar áreas de venda de ingressos e camarotes. Como se isso não fosse suficiente, um telão de LED será instalado no alto da arena, e toda a iluminação e sistema de som serão modernizados. Afinal, se é para gastar, que seja em grande estilo.

Estiagem no Amazonas

Mas, enquanto a elite política discute os detalhes da reforma, a realidade bate à porta. O Amazonas pode enfrentar uma seca severa, e especialistas já alertam para os impactos devastadores na navegabilidade dos rios, na economia local e no abastecimento de energia e água potável. A população, especialmente nas áreas mais isoladas, sofre com a dificuldade de locomoção e a escassez de recursos básicos.

Nos últimos 12 meses até abril deste ano, o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico registrou um déficit de 27% nos volumes de chuvas. Segundo o superintendente de Operações de Eventos Críticos, Alan Vaz Lopes, os níveis de água e a vazão dos rios da Amazônia, embora tenham grandes volumes, são muito sensíveis à falta de chuvas. “Um pequeno déficit de chuva em determinado momento provoca uma grande redução de níveis de água e de escoamento dos rios. É por isso que a gente vê rios enormes tendo uma redução muito rápida nos níveis de água”, explica Lopes.

Para a Agência Brasil, especialistas dizem que os efeitos mais imediatos da seca severa podem afetar de forma intensa a navegabilidade nos rios. “Principalmente as populações mais isoladas são afetadas, porque, com rios sem navegabilidade, passam a enfrentar dificuldade de locomoção para aquisição de material de consumo”, explica Flavio Altieri, analista do Censipam. A economia da região também poderá sofrer problemas. Somente nos rios Solimões, Amazonas, Madeira e Tapajós, há 4.695 quilômetros de hidrovias, pelas quais foram transportadas, no ano passado, 78,2 milhões de toneladas de cargas, somando 55% do que foi movimentado dentro do país dessa forma.

O abastecimento de energia do país é outro setor sensível, já que a região concentra 17 usinas hidrelétricas responsáveis por 23,6% do consumo no Sistema Interligado Nacional. Embora outras estruturas de geração possam suprir uma eventual interrupção, o remanejamento sempre causa algum impacto para o país. A sazonalidade da seca na Amazônia ocorre em etapas desiguais na região. Portanto, os indicativos variam conforme o período de estiagem, que costuma atingir o ápice nos meses de setembro e novembro.

A realidade da estiagem

Os moradores e visitantes que participaram do 57º Festival Folclórico de Parintins, de 28 a 30 de junho, e que permaneceram na cidade para as festividades seguintes, enfrentaram a falta de água. O problema começou uma semana antes do festival, gerando muitas reclamações. A cidade não suportou o alto consumo devido ao aumento populacional, com cerca de 120 mil visitantes durante a semana do festival. O despreparo deixou turistas insatisfeitos e moradores indignados.

Além de lidar com a água contaminada, eles tiveram de conviver com a escassez do produto ou mesmo com a pressão reduzida. Muitas pessoas ficaram sem água e enfrentaram dificuldades para tomar banho, escovar os dentes e preparar os alimentos. Relatos dos brincantes e publicações em redes sociais indicaram que diversas torneiras em alguns pontos da cidade não tiveram abastecimento de água adequado. “Várias vezes faltou água e energia na cidade. Eu mesma e outras pessoas tivemos que sair da casa e procurar outro lugar para tomar banho. Teve muita gente tomando banho de camburão”, afirmou a advogada Vanessa Sampaio.

De acordo com o vereador Massilon Cursino (PSB), a população sofreu com a falta de serviços básicos, como água e energia. “Por diversos dias, moradores e turistas tiveram dificuldade para ter acesso ao serviço de abastecimento de água, principalmente nos bairros do Palmares, Nossa Senhora de Nazaré e São Vicente. A água ainda está muito fraca e não tem força para abastecer as caixas d’água de forma suficiente”, declarou Massilon.

Extraído do site AMAZÔNIAPRESS 

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