Com um breve passeio pela história das vacinas, a médica Amanda Alecrim foi uma das palestrantes do I Fórum Municipal de Vacinação, promovido pela Prefeitura de Manaus, nesta terça-feira, 16/3, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), no Novotel Manaus, no Distrito Industrial, zona Sul.
“As vacinas são a forma mais prática e econômica de prevenir doenças”, afirmou a representante regional da Sociedade Brasileira de Imunização, que evidenciou o papel da imunoprevenção na melhoria da qualidade de vida da população. Ela voltou ao ano de 1796, quando foi criada a primeira vacina, que protegia contra a varíola, para demonstrar que os avanços da ciência e a oferta de vacinas foram decisivos na redução de adoecimentos e mortes.
“Essa primeira vacina, criada há mais de 200 anos, permitiu a eliminação da varíola e os dados relacionados a essa época, apontam redução de 300 milhões de mortes por varíola, em todo o mundo, depois do surgimento da vacina”, explicou.
Visitando o cenário brasileiro do século XIX, a médica destacou o fato de que os imunizantes estavam disponíveis no país, de forma gratuita, tanto para adultos quanto para crianças, sendo inclusive estabelecido por lei que a vacinação era obrigatória. Mas o que se via, na prática, era que as pessoas tinham medo de se imunizar e preferiam correr o risco de adoecer.
Amanda destacou que 1904 entrou para a história da imunização. Naquele ano, o médico sanitarista Oswaldo Cruz estabeleceu ações que obrigavam a população a se vacinar, provocando o movimento conhecido como “Revolta da vacina”, quando a população foi às ruas protestar pelo direito de não tomar a vacina.
“A vacina só foi de fato aceita pela população em 1908, quando ocorreu um grande surto de varíola no Rio de Janeiro. Esse acontecimento mudou o cenário e o comportamento do povo brasileiro, a partir dele a população começou a ter medo da doença e começou a acreditar na eficácia da vacina”, observou.
Mudanças
Amanda Alecrim destacou a importância do Programa Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973, responsável por promover uma mudança no perfil epidemiológico das doenças imunopreveníveis. A médica assinalou que o primeiro calendário de vacinação brasileiro, lançado em 1977, previa a aplicação de quatro vacinas em todas as crianças, durante o primeiro ano de vida. Atualmente, o PNI oferta 19 vacinas, gratuitas e disponíveis na rede básica de saúde, para todas as faixas etárias.
De acordo com Amanda, a partir da criação do PNI houve uma mudança importante de cenário no Brasil com relação à incidência de doenças imunopreveníveis. “Com as boas coberturas vacinais, registradas nos primeiros 30 anos de atuação do PNI, o Brasil avançou na eliminação de muitas doenças. Graças a esse trabalho, o país recebeu no ano de 1994 o certificado de erradicação da poliomielite e eliminou doenças como a rubéola e o tétano neonatal”, pontuou.
Também houve redução dos casos de tétano acidental, difteria e das doenças diarreicas agudas causadas por rotavírus. “Depois da introdução da vacina do rotavírus, foi registrada uma redução de 40 mil internações de crianças, em todo o país”, informou.
Cobertura
Em análise mais recente, Amanda Alecrim apontou que, a partir de 2015, o país começou a apresentar uma situação preocupante na área da imunização, com queda nas coberturas vacinais, e aumento do risco de reaparecimento de doenças como o sarampo e a poliomielite. “Hoje o cenário é preocupante demais, pois se temos poucas pessoas vacinadas, a probabilidade das doenças retornarem são enormes e isso já aconteceu em 2018, com os surtos de sarampo, registrados em Manaus e São Paulo”, destacou.
A médica também salientou o registro de dois casos de poliomielite no início deste ano, um na África e outro em Israel. “Esses casos acendem um alerta, pois ocorrem em locais onde a doença estava eliminada. E como estamos com cenário de baixa cobertura vacinal, precisamos começar a agir para não termos a doença de volta em nosso meio”, observou.
O direito das crianças de receber as vacinas e ter proteção contra as doenças imunopreviníveis está garantido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O documento também define que pais, mães e responsáveis têm dever de levar as crianças para serem imunizadas, garantindo sua proteção individual e contribuindo para a manutenção da saúde de todos.
“Precisamos que todos, os pais, mães, professores, tios, familiares, se conscientizem da gravidade do problema e façam a sua parte para aumentar a cobertura vacinal, nas nossas cidades, estado e em todo o país e garantir que as nossas crianças continuem crescendo livre de doenças”, ponderou.
A médica salientou que todas as vacinas do calendário de vacinação das crianças estão disponíveis nas mais de 170 salas de vacinação distribuídas em Manaus. “O poder público tem feito a sua parte, disponibiliza as vacinas. Os outros entes envolvidos precisam também fazer a parte que lhes cabe”, concluiu.
Fotos – Camila Batista / Semsa