Anne Moura é militante feminista, nascida em Manaus-Amazonas e filiada ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras desde os 16 anos de idade.
Atualmente está em seu segundo mandato como secretária Nacional de Mulheres do PT, cumprindo agenda importante na formação política de mulheres e na construção de políticas públicas para todas.
Democracia é uma palavra feminina que significa o povo escolhendo seus representantes. Governo do povo, pelo povo e para o povo. Eu aprendi sobre democracia ainda muito jovem, quando aos 15 anos de idade entrei para o Grêmio Estudantil da minha escola. Na prática, quando me tornei presidenta do Grêmio, pude entender de fato o que significava um mandato popular jovem e exercido por uma mulher.
Sabe-se que a participação de mulheres na política, evidencia o amadurecimento de uma democracia. Quanto mais mulheres estão nos centros de poder, mais políticas públicas para elas e tantas minorias as quais elas atravessam. Quanto mais mulheres nos cargos políticos, mais oportunidades de redução da desigualdade de gênero dentro de uma cidade, estado ou país.
Ser uma mulher militante, atuante e no exercício da vida política no Brasil, é um grande desafio. Agora imagine o que é ser uma mulher nascida no seio da floresta amazônica, cercada de mulheres fortes, porém com uma imensidão de barreiras físicas e sociais a serem vencidas…
Minha história é uma história de muitas lutas e de desafios que nunca acabam, mas que me tornaram forte para continuar fazendo dela, um exemplo e uma chama de esperança para tantas outras mulheres.
Fazer política é lembrar constantemente de que, apesar de sermos a maioria das pessoas vivendo no Brasil, nossos direitos, causas e sonhos, ainda carecem e urgem de serem conquistados. Atualmente, nós representamos 51,8% da população do Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD).
Também representamos 52,5% do eleitorado brasileiro, sendo 77.649.569 mulheres aptas a votar nas eleições de 2020. No Amazonas, também somos a maioria. 51,3% (1.283.669) do eleitorado é feminino. Mas, ainda assim, dentro do cenário político ainda somos esquecidas.
Atualmente na Câmara Municipal de Manaus (CMM), dos quarenta e um vereadores e vereadoras, apenas quatro são mulheres. Na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), apenas quatro mulheres ocupam uma, das vinte e quatro cadeiras do parlamento.
Não temos nenhuma deputada federal representando as mulheres do estado na Câmara dos Deputados. Ainda que a primeira mulher a ocupar um lugar no Senado Federal tenha vindo do Amazonas, também não temos nenhuma mulher nos representando lá atualmente. Na prefeitura de Manaus e no Governo do Estado, nenhuma mulher um dia ocupou a chefia do Poder Executivo local.
Precisamos dar voz às mulheres amazonenses, para que elas ocupem espaço no núcleo político do estado do Amazonas. A realidade enfrentada por elas, está cada dia mais precária.
Faltam políticas públicas voltadas para o empreendedorismo feminino, para a formação profissional, para a maternidade, para crianças e adolescentes e principalmente, políticas efetivas de combate ao feminicídio e violências domésticas.
Durante o ano de 2021, o Amazonas registrou cerca de 10 mil casos de violência contra a mulher só no primeiro semestre. Não podemos mais aceitar que esse número continue crescendo. Para além disso, é preciso a inserção das mulheres tanto no mercado de trabalho, quanto na formação pedagógica e social.
As mulheres cada dia mais anseiam por oportunidades que podem mudar uma realidade de submissão e violência. E é por meio do poder público que essas medidas eficazes podem ser implantadas.
Nesse 08 de março, dia em que celebramos a vida das mulheres, queremos mais direitos. Essa data não é apenas uma lembrança, mas um símbolo para que a sociedade olhe com seriedade e compromisso para as causas das mulheres.
Já nos basta tanto esquecimento e machismo vindos do Governo Federal, que pouco a pouco tentou destruir as ações já conquistadas nos governos anteriores.
Para nós, não cabem apenas os cuidados com a vida privada, mas também a importante participação e contribuição que todas temos a dar na vida pública.
E essa luta não é só uma luta de mulheres para mulheres, mas sim uma grande corrente que deve se estender para todos. Homens e mulheres lutando juntos, lado a lado, por uma sociedade que priorize a equidade e igualdade. Em menos de 100 anos, nós conquistamos o direito ao voto, ao divórcio, ao trabalho, aos estudos.
Conquistamos muitos espaços e o ambiente político é uma fronteira que constantemente precisamos ocupar. Dentro da marcha da história estamos caminhando, mas nessa caminhada ainda existem muitos obstáculos a serem superados.
Precisamos de todas e todos juntos pela vida das mulheres! A nossa luta nunca para! A mudança social que esse país precisa será construída pelas mulheres!
Avante guerreiras Amazonas!