Após títulos nacionais, sul-americanos e mundiais, Malu Murielly venceu uma depressão profunda, a perda de um filho e problemas de saúde. Hoje, aos 35 anos, retorna às competições com a filha Maya Yasmine como inspiração para continuar fazendo história no levantamento de peso.
Tudo começou em 2012, quando Malu tinha apenas 12 anos. Ia escondida com o irmão para a academia do bairro e lá observava o professor Lorimar orientando jovens no levantamento de peso. O que era uma simples brincadeira e um segredo entre irmãos logo se transformou em paixão. Com apenas três meses de treino, já estava participando do Campeonato Amazonense de Força e Potência, onde conquistou sua primeira vitória: 1º lugar na categoria sub-júnior. A partir daí, a trajetória foi marcada por conquistas, disciplina e superação.
Com os treinos se tornando cada vez mais sérios, veio a convocação para o primeiro Campeonato Brasileiro oficial pela Confederação IPF. Aos 18 anos, Malu conquistou seu primeiro título brasileiro, seguido pela convocação ao Campeonato Sul-Americano, onde garantiu o primeiro lugar na categoria sub-júnior, sendo reconhecida como atleta revelação.
A partir daí, uma sequência de conquistas impressionou o cenário esportivo nacional: foram quatro títulos brasileiros, dois sul-americanos e um mundial pela COMBRAFA (Brasília). As vitórias renderam destaques em revistas esportivas e uma homenagem na Assembleia Legislativa do Amazonas como “Atleta do Ano”.
Da glória à perda: uma pausa forçada
Em 2012, após o Mundial, sua carreira foi interrompida por questões de saúde. Diagnósticos de hérnia de disco (L4, L5, L5S1) e hipotireoidismo de Hashimoto a afastaram das competições. No ano seguinte, um baque ainda maior: em 2013, tornou-se mãe do pequeno Miguel, que infelizmente faleceu com apenas 23 dias de vida, após uma cirurgia delicada no coração.
A dor da perda mergulhou Malu em uma profunda depressão, que a afastou não apenas do esporte, mas de si mesma. “Quis desistir de mim”, relata emocionada. Foram anos de luto e luta silenciosa, até que uma homenagem recebida em um campeonato local reacendeu a vontade de voltar a viver e competir.
Renascendo com a filha ao lado
Em 2016, Malu recebeu um convite para treinar Levantamento de Peso Olímpico (LPO). Meses depois, já estava de volta às competições. Vieram novos títulos estaduais e nacionais em 2017 e 2018. Em 2019, mais uma pausa, dessa vez por um motivo feliz: a gravidez de sua segunda filha, Maya Yasmine.
Mesmo grávida, manteve os treinos. Em 2020, os treinos foram interrompidos novamente por causa da pandemia da Covid-19, ficando dois anos parada. Mas em 2023, o retorno foi triunfal: de volta às competições estaduais, garantiu três títulos em 1º lugar na categoria OPEN até 70kg.
Infelizmente, perdeu oportunidades em campeonatos nacionais por falta de patrocínio e apoio financeiro. Mesmo assim, não desistiu. Este ano, retornou à Confederação IPF, com a meta de refazer sua história esportiva — agora com sua filha de 5 anos como maior inspiração.
“Hoje, a Maya já treina os movimentos básicos. Meu sonho é ser sua treinadora no futuro. Por isso voltei à faculdade, estou cursando Educação Física, para prepará-la e também formar novos talentos”, conta.
Malu é formada em Direito, trabalha por conta própria, é mãe solo, dona de casa, cuida da mãe e da família — e ainda encontra tempo para treinar e competir. Um verdadeiro exemplo de força.
Uma missão social
A atleta também sonha em criar projetos sociais com o esporte de força voltado para crianças com grande potencial. “O esporte me salvou, me deu vida novamente. Agora, quero que ele salve outras crianças também.”
Aos 35 anos, Malu Murielly se define com simplicidade, mas muita garra:
“Sou atleta de força. Tenho sede de levantar peso como antes. Esse esporte me dá vida.”
Texto: Edivan Farias – Portal Blitz Amazônico
Repórter das Comunidades AM – Facebook, Instagram, TikTok e Kwai
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