Encerra nesta quinta-feira (15/08), a 2ª Jornada Internacional sobre o Tráfico Ilegal de Vida Silvestre em zonas de fronteira entre Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil. Foram dois dias de debates, com a presença da Dra. Jane Goodall, cientista, Mensageira da Paz das Nações Unidas, reconhecida globalmente. A equipe da WCS Brasil esteve presente no evento, que aconteceu na cidade de Misiones, na Argentina.
Participaram do encontro especialistas e técnicos dos quatro países, com o objetivo de compartilhar e coordenar ações conjuntas para prevenir a problemática do tráfico de animais nas fronteiras. A equipe da WCS Brasil esteve presente com a Gerente de Áreas de Conservação, Márcia Lederman, e o Especialista em Combate ao Tráfico de Animais, Antônio Carvalho.
“Aproximar as forças ambientais e de segurança em zonas de fronteira é essencial para combater o tráfico de vida silvestre. Temos uma fronteira muito extensa, com muitas áreas onde a biodiversidade está desprotegida e que serve de ponto de extração e de rota pra esse tipo de atividade ilícita. Esse foi o papel da WCS Brasil nesse evento, que possibilitou conectar nossas autoridades com os países vizinhos para aumentar a nossa capacidade de enfrentar crimes contra a fauna”, afirmou Carvalho.
Atualmente, o tráfico de vidas silvestres é considerado uma das maiores ameaças à conservação global da diversidade biológica e tem impacto particular em países da América do Sul.
Realização do encontro – Assim como na primeira edição, realizada em novembro de 2023, a 2ª Jornada Internacional sobre o Tráfico Ilegal de Vida Silvestre em zonas de fronteira entre Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil é promovida pela organização de conservação Wildlife Conservation Society (WCS), no âmbito do seu projeto “Combate ao tráfico de vida silvestre por meio do aumento da cooperação, capacidade e marcos legais nacionais e transnacionais na América Latina”.
A realização do evento acontece com a colaboração do Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Paraguai, do Ministério do Meio Ambiente e Água da Bolívia, do Ministério da Segurança da Nação da Argentina e do Governo da Província de Missiones; e com o apoio do Gabinete de Assuntos Internacionais sobre Narcóticos e Aplicação da Lei (INL) do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Com o objetivo de promover ações e estratégias conjuntas, a Jornada reuniu um grupo de servidores, oficiais, cientistas, profissionais e técnicos que desempenham suas funções em instituições governamentais e da sociedade civil dos quatro países, como forças de segurança, autoridades ambientais, poder judiciário, institutos de pesquisa e centros de resgate.
Nas fronteiras entre esses quatro países, a caça furtiva, o trânsito e o comércio ilegal são uma ameaça para répteis como a tartaruga terrestre chaquenha, mamíferos como a onça-pintada e diversas espécies de aves, como araras e papagaios.
A dinâmica do encontro consistiu em instâncias de debate e mesas de trabalho participativas, onde os participantes poderão trocar experiências, boas práticas e desafios comuns para promover uma perspectiva regional e colaborativa na prevenção do Tráfico de Vida Silvestre.
Presença especial – Nesta segunda edição, a Jornada contou com a participação especial da Dra. Jane Goodall, destacada cientista e ativista inglesa, e uma das criadoras da primatologia moderna.
Desde 1977, a Dra. Goodall promove pesquisas sobre a vida silvestre, conservação de espécies e conscientização da população por meio de seu Instituto Jane Goodall, que atualmente tem presença global e conta com representação na Argentina.
Por seu ativismo contínuo, em 2022, foi nomeada Mensageira da Paz das Nações Unidas, em reconhecimento à criação do Roots & Shoots (Raízes e Brotos), um programa educativo, ambiental e humanitário que se estende por todo o mundo.
Tráfico e vida silvestre, uma ameaça regional – O comércio ilegal de fauna e flora silvestre representa a segunda maior causa de perda de biodiversidade em escala global, enquanto na América Latina constitui a principal ameaça para um número crescente de espécies. Ao mesmo tempo, a extração em massa de indivíduos dos ecossistemas provoca desequilíbrios importantes, alterando a interação entre as espécies, o funcionamento e a resiliência dos ecossistemas.
Além disso, ao serem retirados de seus ambientes, os animais podem transportar e dispersar patógenos (vírus, bactérias e fungos) e colocar em risco a saúde humana; estima-se que 75% das doenças descobertas na última década (como a COVID-19 e a varíola dos macacos) são de origem zoonótica. O tráfico de fauna silvestre também ameaça a segurança das pessoas e o estado de direito dos nossos países devido ao envolvimento de redes de crime organizado nessa atividade ilegal, muitas vezes transnacionais e transcontinentais.
O crescente comércio ilegal de vida silvestre impacta a sobrevivência das espécies, a integridade dos ecossistemas, a saúde e segurança humana e os meios de subsistência das comunidades.
Para mitigar essa complexa ameaça, a WCS apoia o desenvolvimento de estratégias e ações coordenadas em escala local, nacional e regional com uma perspectiva multinível, atualizada e colaborativa entre as instituições governamentais, o setor privado e a sociedade civil. Dessa forma, espera-se que a Jornada Internacional sobre o Tráfico Ilegal de Vida Silvestre em zonas de fronteira continue a contribuir para a prevenção desse delito que ameaça a vida silvestre em toda a região.