Os internos irão se apresentar no Teatro Gebes Medeiros no próximo dia 27 de novembro
A equipe da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) promoveu na última semana, um ensaio especial com os participantes do projeto “Pupa”, atividade que utiliza a arte cênica como instrumento de resgate aos socioeducandos do Centro Socioeducativo Assistente Dagmar Feitoza, no bairro Alvorada, Zona Oeste de Manaus.
O encontro reuniu os profissionais que conduzem a parte artística e intensificou os ajustes com os internos, que vão se apresentar no Teatro Gebes Medeiros no próximo dia 27 de novembro. A atividade tem revelado talentos, como afirma a preparadora do elenco, a artista amazonense Bita Tikuna Catão.
“Desta vez temos mais profissionais, figurinista, maquiadora, produtora, professor de música e a cada dia me surpreendo muito com os alunos. Estou muito feliz com eles, já estamos evoluindo mais rápido do que a gente imaginava. Os atores estão me surpreendendo em tudo, a parte do coral também e do instrumental”, enfatizou.
A educadora musical Regina Santos destaca a evolução dos socioeducandos. Há mais de dez anos se dedicando à educação por meio da música, Regina compartilha ter vivido um momento ímpar na carreira.
“É um desafio trazer essa atmosfera para a realidade deles. A minha felicidade é imensa, de saber o que a gente tem conseguido conduzir e, principalmente, plantar no coração deles a sementinha do poder da arte, que a arte salva. Eles têm muito talento musical, didático. É uma alegria enorme saber de quanto eles evoluíram”, pontuou.
Acolhimento e Esperança
Para M.S, um dos socioeducandos que participa do projeto, a iniciativa vem como um abraço que incentiva a construção de novas ideias. “Eu estou achando uma coisa maravilhosa, e tenho só agradecer a Defensoria Pública e toda a equipe que faz o que muitas pessoas por aí não estão fazendo por nós. Eu queria que existissem mais pessoas assim, que acolhessem a gente”, explicou.
O adolescente conta que, a cada ensaio, descobre novas habilidades. O que no início não despertava interesse, agora é a principal atividade da semana. “No começo achei que era melhor não participar, mas depois vi que estava interessante, comecei a interagir, comecei a desenvolver algumas coisas, a colaborar e tô aí agora fazendo a parte da atuação”.
Com apenas 17 anos e com planos para um recomeço de vida, o interno vê na arte um instrumento que pode auxiliar para a nova fase que o aguarda ao sair do Centro Socioeducativo.
“Eu sei que eu tô aqui por uma coisa errada que eu fiz, sigam mais os conselhos dos pais, não larguem o estudo pra entrar nessa vida do crime que é só uma ilusão e pra quem já tá aí perdido, espero que você tenha uma chance como estamos tendo aqui no Dagmar. Sou grato por esse projeto que me fez ter uma esperança de buscar outras possibilidades que não tinha a oportunidade de ver antes”.
Transformação
Uma das responsáveis pelo projeto, a defensora pública Dâmea Mourão, o trabalho delicado exige compreensão de um processo que costuma ser lento para que, de fato, haja mudanças positivas.
“Eu vejo uma transformação, mas é devagar, todo o processo é lento e faz parte. Eles estão em desenvolvimento, numa fase difícil. O nome do projeto Pupa é justamente essa fase de transição, desenvolvimento e transformação. Quer dizer Crisálida, que também vem de crise, todo o ser humano passa por crises, enfrenta questionamentos na vida, tanto por seu destino pessoal quanto profissional. Conseguimos notar uma mudança que às vezes é sutil, mas que já é significativa.”
Foto: Allan Leão