As escolas de samba filiadas à LIESA-AM e à UESAM anunciaram, ontem, 06/10, que não aceitarão a imposição da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (SEC) como organizadora do evento. A posição firme das 20 agremiações surge como um claro repúdio à condução do titular da SEC, em ignorar o modelo estabelecido nacionalmente e tentar usurpar a autonomia das escolas.
O movimento foi formalizado com base em um documento enviado pela LIESA à SEC na semana passada, detalhando uma série de insatisfações. Sendo a principal delas a tentativa da secretaria assumir a organização do Carnaval, função esta que em todo o Brasil, é exercida pelas ligas das escolas de samba, cabendo ao poder público tão somente o fomento e a operacionalização logística.
Autonomia ameaçada e imposição de empresa
Além da discordância sobre a organização, as escolas levantaram outra crítica grave: a SEC já teria definido, sem qualquer diálogo prévio, a empresa responsável pela operacionalização da venda de bebidas durante o Carnaval. De acordo com as agremiações, esta decisão unilateral ignora um ponto crucial para a sustentabilidade financeira delas: a definição das cotas de bebidas que cabem a cada escola, um recurso essencial para cobrir os custos dos desfiles.
A proposta apresentada pela secretaria, segundo as escolas de samba, é ainda mais danosa. Em vez de receberem suas cotas estabelecidas, as agremiações seriam transformadas em meras vendedoras de bebidas dentro de suas próprias quadras. Essa mudança tira a autonomia financeira e administrativa das escolas, subordinando-as a um modelo comercial imposto.
“Estão querendo transformar nossas sedes em barraquinhas de quiosque. Isso é inaceitável. A venda das bebidas dentro das quadras é uma das nossas principais fontes de receita para bancar o desfile. A SEC não pode chegar e ditar as regras sem nos ouvir, como se não fôssemos os principais atores deste espetáculo”, desabafou o presidente da A Grande Família, Cleildo Barroso (Caçula).
Seminário considerado viciado e sem decisão legítima
O documento da LIESA também expõe as falhas no seminário promovido pela SEC em setembro, classificando o evento como viciado e não democrático. A LIESA E UESAM, relataram que apenas a entidade GAO (Grupo de Acesso Oficial de Cultura Popular) teve acesso privilegiado às normas e formato do seminário, tendo, inclusive, participado da elaboração de um Regimento Interno que, dentre os muitos pontos negativos, já impunha o impedimento a voto das escolas de samba do grupo Experimental, sob o argumento de que elas não desfilam no sambódromo, além de impedir o presidente da Escola de Samba Beija-Flor do Norte (Grupo de Acesso A) de votar.
É importante destacar que, apesar da confusão, o seminário não tomou nenhuma decisão sobre a organização do Carnaval, tendo definido apenas a data dos desfiles e a ordem de apresentação. Para as duas entidades, a tentativa posterior da SEC de se autodeclarar organizadora não tem base nas discussões do evento e desrespeita a autonomia do Grupo Especial e dos Grupos de Acesso A, B e Experimental.
Em entrevista, o presidente da LIESA-AM, Roberto Simonetti, foi enfático ao defender o papel da Liga e das agremiações. “A LIESA não é contra o diálogo com a SEC, muito pelo contrário. Somos contra essa tentativa de esvaziar o nosso papel e transformar as escolas em meras coadjuvantes do próprio Carnaval. Em todo o Brasil, quem organiza os desfiles são as escolas, através das suas ligas. O poder público é um parceiro fundamental no fomento e na infraestrutura, mas não pode ser o organizador. Não abriremos mão da nossa autonomia”, declarou Simonetti.
O presidente ainda complementou sobre o impasse: “O que estamos vendo é um desrespeito a uma tradição cultural. As escolas de samba filiadas da LIESA e da UESAM estão unidas e não teremos receio de não desfilar se for para preservar a dignidade do nosso Carnaval. Esperamos que o secretário reveja essa postura e sente para conversar de verdade, porque até agora, o que tivemos foi monólogo, não diálogo”.
Diante do impasse, as escolas de samba filiadas à LIESA-AM e a UESAM, já iniciaram discussões internas para definir os rumos do Carnaval 2026, independentemente da SEC, enquanto aguardam a realização de uma audiência urgente e “transparente” com o secretário. O futuro do maior espetáculo popular de Manaus agora depende da capacidade de diálogo do gestor estadual.
Texto e foto: Assessoria de Comunicação Liesa-AM