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Governo começou bem nas relações internacionais, mas deve evitar ruídos

Depois de alguns anos de isolamento do Brasil do resto do mundo, o novo governo começou bem no cenário internacional. Na opinião do professor de Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Alcides Peron, é visível uma agenda de recuperação de pragmatismo regional e maior participação do País em mediação de conflitos globais.

Para o especialista, apesar de a agenda internacional ter começado de fato apenas por volta de março, por conta dos desdobramentos dos ataques aos poderes em 08 de Janeiro; em um primeiro momento a avaliação é de que o novo governo vai agir dentro das normas democráticas, retomando a tradição pragmática da democracia brasileira e da defesa dos direitos humanos, privilegiando cooperação, comercio e desenvolvimento econômico.
 

“Será uma agenda mais pacífica nas relações exteriores, retomando de certa forma o brio da diplomacia brasileira perdida nos últimos anos. Há sinal da volta de uma agenda que havia sido deixada de lado, de cooperação sul-americana”, opina Peron.
 

O docente avalia que o mundo está passando por transformações complexas que tem se acelerado, como uma grave crise global. Nesse cenário, a “volta” do Brasil ao cenário internacional é muito bem-vista pela comunidade internacional.
 

“Qualquer agenda climática precisa da participação do Brasil, por sermos um dos maiores países exportadores nos setores agrícola e de minérios, sem falar da Amazônia. Há uma expectativa enorme que o Brasil retome uma agenda democrática e plural, e espera-se que continue assim. Além disso, o País colocou fim a uma agenda de extrema direita antidemocrática, e o mundo não espera um retrocesso da agenda obscurantista do governo anterior”, acrescenta.
 

PONTOS POSITIVOS
 

A priorização da proteção ambiental, com respeito à agenda humanitária e de preservação socioambiental é um acerto do governo, como a retomada do Fundo Amazônico e contato com parceiros internacionais, ainda que tenham acontecido derrotas no Congresso nesse sentido.
 

A recuperação da tradição pragmática também é outro ponto avaliado positivamente. A atuação em temas da geopolítica global, como a volta dos BRICS e estímulo a linhas de crédito mostra uma agenda que pode trazer ganhos de investimentos e infraestrutura.
 

“Tradicionalmente o Brasil não se alinha automaticamente a interesses de grandes potências, mas sim jogamos para não ter uma agenda reativa imediata. Notamos a recuperação da agenda pragmática, tanto que o governo fez visitas aos Estados Unidos e China, participou do G7 e organizou uma cúpula de países sul-americanos para fomentar a autonomia da região. É um governo que não está se atrelando, mas buscando se atrelar a interesses”.
 

PONTOS NEGATIVOS
 

A busca de negociação para o conflito entre Rússia e Ucrania mostra que temos capacidade de liderança, ousadia e credibilidade, o que é bem-visto no cenário internacional. Mas, na tentativa de mediar conflitos internacionais, certas declarações podem soar mal.
 

“Falas e movimentações são carregadas de sentido e significado. Algo dito, sem estar alinhado ao corpo diplomático, pode soar negativo. Por vezes o presidente verbalizou posicionamentos que poderiam não ter sido ditas, pois mais reforçaram conflitualidade do que contribuíram para que Brasil fosse aceito como mediador”.
 

Outro ponto negativo apontado por Alcides Peron é o “excesso de afeto” ao governo Maduro.
 

“A proximidade com a Venezuela é importante, por se tratar de um país vizinho, e termos assuntos de segurança da fronteira que precisam de negociação. Para se construir uma unidade continental não se pode ignorar o país vizinho, como fez o governo anterior, além de que é necessário ter uma agenda econômica proativa com a Venezuela. Mas o afeto demonstrado pelo presidente venezuelano causou ruídos não só internamente, mas também externamente, e isso joga negativamente, tornando difícil uma agenda de cooperação sul-americana”, conclui Peron.
 

O especialista: Alcides Peron é graduado em Relações Internacionais e em Ciências Econômicas. É mestre e doutor em Política Científica e Tecnológica. Foi pesquisador visitante do Departamento de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia da Lancaster University (Inglaterra), e pesquisador visitante do War Studies Department do King’s College London, Reino Unido. Realizou Pós-doutorado (FAPESP), no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) (2018-2022). Dedica-se a estudos sobre Vigilância e Novas Tecnologias; Governamentalidade e Segurança Pública; Guerra Moderna e Cibernética; Ciência, Tecnologia e Segurança; Política Tecnológica Militar Norte Americana e Brasileira. É professor do curso de Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).

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