Por Carlos Santiago (Sociólogo, Cientista Político e Advogado)
Nos debates eleitorais, o objetivo maior é agradar o eleitorado. Impressões de analistas e cientistas políticos, de sociólogos e de jornalistas militantes, não são fundamentais.
Por isso, o desempenho dos pré-candidatos, que participaram do debate na Band Amazonas, foi aceitável dentro da estratégia eleitoral de cada um para alcançar a simpatia, a confiança e o voto dos eleitores de Manaus.
Os sociólogos, os analistas e cientistas políticos possuem em suas mentes, tipos ideias de gestor público e de comportamento ético na política, geralmente envolvendo pessoas com ficha limpa, boa qualidade profissional, com excelentes vocabulários e capazes de unir a sociedade em prol de interesses coletivos do presente e com perspectiva futura, além de lideranças respeitadas no mundo. Não estão errados. Porém, a realidade não é assim no mundo real.
Em São Paulo, por exemplo, o coach Pablo Marçal (PRTB) tem mais intenções de votos do que a deputada Tabata Amaral (PSB) que possui um excelente comportamento ético na política e com formação na Universidade Havard, uma das melhores universidades do mundo. Como explicar isso? Jair Bolsonaro foi eleito presidente do país sem ter sido um excelente administrador ou um bom legislador. Qual a explicação disso? Lula da Silva venceu sem instrução superior e sem um vocabulário admirável. Alguma explicação? José Melo foi eleito governador sem ser um líder político. Por que?
Então, na busca do voto, o importante é entender a cabeça do eleitorado, o mundo real.
Os tipos ideais são modelos de reflexão dos estudiosos, mas não existem. É até possível fazer uma comparação entre o ideal e o real, especialmente no espaço acadêmico. No mundo da disputa pelo voto, a cultura do povo e o seu comportamento são os que pesam na hora da formulação de propostas e das estratégias eleitorais.
Não é à toa que o marketing político tradicional busca entender o comportamento do eleitorado a partir dos aspectos sociológicos, econômicos e psicossociais.
É possível uma decisão do voto por influência de grupos sociais? O indivíduo com seus medos, com a sua fé e a imagem construída da política na sua mente define o voto? É possível que o eleitor vote pensando no custo-benefício? O que ele vai ganhar votando no fulano ou no sicrano? Tudo isso é desafio permanente do marketing político.
Quando a avaliação de cada um pré-candidato no debate da Band Amazonas, leva em consideração o eleitor real, o mundo real, é possível entender as perguntas, as críticas, as respostas e os embates que aconteceram, além das apresentações e das despedidas.
São quatro nomes qualificados para o jogo político, com boas assessorias de comunicação e com profissionais qualificados que produzem pesquisas de opinião pública. Ou seja: no debate não tinha amadores.
Amom Mandel quer conquistar o eleitor antissistema, o insatisfeito, uma parcela significativa do eleitorado, quer alguém fora da política tradicional. Usa o discurso anticorrupção e contra o dinheiro público nas campanhas. Fala direto com os jovens nas redes sociais e usou um bordão juvenil na TV: “está todo mundo se fazendo de doido”, quando o adversário não respondia a sua pergunta.
Marcelo Ramos quer reconquistar os eleitores que perdeu nas últimas eleições.
Em 2016, teve mais de 44% dos votos para prefeito de Manaus. Uma aproximação com os eleitores do Lula e com os partidários da Esquerda, é o caminho preparado. No debate da Band Amazonas, evitou a polarização entre Bolsonaro e Lula em Manaus, mas buscou afirmar que não tem compromisso com David Almeida e nem com Wilson Lima.
Capitão Alberto Neto quer conquistar a maioria dos eleitores bolsonaristas com discurso militar de ordem e tendo a segurança pública e a educação militar como referências.
Falou do Bolsonaro, porém, quis passar a ideia de uma nova liderança. A administração David foi seu alvo, ele sabe que David tem 30% de intenção de voto, mas tem 70% dos eleitores que não optaram por David Almeida.
Roberto Cidade reforçou o sentimento popular e das pesquisas: Manaus é uma cidade com muita pobreza; muito violenta; e com serviço de saúde precário. Buscou mostrar que é uma nova liderança, preparada que tem o apoio do governo estadual, mas com independência e com propostas e projetos para Manaus.
Portanto, no debate da Band Amazonas, os pré-candidatos buscaram diálogos com os eleitores do município de Manaus, pois os governantes não representam a expressão das vontades de filósofos, sociólogos, cientistas políticos e de jornalistas militantes idealistas, mas tão somente o reflexo da crença, dos comportamentos e da qualidade ética e política da maioria dos eleitores.