Blitz Amazônico
Amazonas

Creches de Manaus: No Tribunal, DPE-AM defende transparência e critérios objetivos para o preenchimento das vagas 

Durante julgamento no TJAM, defensor público afirma que o atual modelo, com inscrição exclusivamente pela internet, é excludente e tem causado prejuízos a diversas famílias; relatora apresenta voto na próxima quinta-feira (16)

A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) defendeu, nesta segunda-feira (13), que a Prefeitura de Manaus adote critérios objetivos e transparentes no processo de preenchimento das poucas vagas ofertadas em creches da rede municipal de ensino da capital. O pleito é analisado pela Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), por meio de um recurso chamado Agravo de Instrumento.

Durante sustentação oral no julgamento do caso, o defensor público Carlos Almeida Filho, titular da Defensoria Pública Especializada em Interesses Coletivos (DPEIC), relembrou que a inscrição virtual e com sorteio aleatório foi adotada no ápice da pandemia de Covid-19, quando a aglomeração de pessoas deveria ser evitada.

Contudo, mesmo após melhoria das condições sanitárias da pandemia, em 2022, a prefeitura manteve o formato para a distribuição das vagas, o que gerou diversas reclamações de mães, que procuraram a DPE-AM. A Defensoria Pública, então, oficiou a prefeitura no início de 2023, ressaltando que tal formato deveria ser excepcional, e solicitou a adoção de critérios para o preenchimento das vagas.

“O apelo Defensoria não se refere ao aumento do número vagas. Ele discute como a quantidade rara de vagas deve ser trabalhada. Nós pensamos em soluções que a administração já dá para situações nesse sentido”, disse Carlos Almeida Filho, ao citar a regulação do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Foi nesse sentido que a Defensoria, então, pediu que se estabelecessem critérios objetivos para que os mais carentes pudessem ser atendidos”, acrescentou.

Apesar disso, a prefeitura manteve o modelo de inscrição virtual com sorteio aleatório, afirmando que não seria possível mudar. A Defensoria, por sua vez, constatou que, ao longo de 2023, foram abertas inscrições diversas vezes, indicando que era possível mudar a metodologia a qualquer tempo, sem prejuízos para os novos ingressantes. “Não havia impossibilidade administrativa”, observou o defensor.

Para Carlos Almeida Filho, a decisão de manter a metodologia de seleção “injusta” indicava a intenção de mantê-la indefinidamente. Diante disso, sem a resolução administrativa, a DPEIC judicializou o caso – após o juízo de Primeira Instância negar a liminar pela suspensão do modelo, a Defensoria recorreu ao TJAM.  

“É fato que se deve aplicar na administração o princípio da isonomia. Não se pode escolher de forma aleatória quem pode ser beneficiário da atenção da administração”, ressaltou Almeida, ao defender a adoção de critérios claros para o preenchimento das vagas. “As creches são pagas por todos nós. Não me parece razoável que uma pessoa mais abastada possa ter, por um critério de sorteio e por uma possível não transparência, um benefício que uma pessoa mais carente não tenha”, acrescentou.

O sistema atual de escolha, segundo Almeida, tem causado prejuízos a diversas famílias, que têm procurado DPE-AM. “Nós temos mães, nós temos pessoas carentes que precisam trabalhar e não estão conseguindo acesso às vagas, porque a inscrição via internet é excludente”, enfatizou.

“Pedir para uma pessoa que está precisando de emprego, que vive de BPC (Benefício de Prestação Continuada), que vive de Bolsa Família, que tenha um smartphone com acesso à internet para acessar o site e se cadastrar é excludente. Na realidade que nós vivemos hoje, aglomerações não são proibidas. Com o mínimo de organização, é possível se racionalizar a situação”, destacou o defensor.

A Procuradoria Geral do Município (PGM) reconheceu que não há vagas suficientes para atender a toda demanda de Manaus e que o sorteio aleatório não foi a melhor estratégia adotada, mas que foi a possível naquele momento de alta da pandemia. Segundo a procuradora Janaína Barroncas, acatando pedido da DPE-AM, a prefeitura criou um grupo de trabalho que incluiu algumas sugestões e modificou o processo, incluindo alguns critérios para o preenchimento das vagas. Contudo, a inscrição virtual permanece.

Após as sustentações orais das partes, a relatora do recurso, a desembargadora Maria das Graças Figueiredo, pediu suspensão do julgamento e antecipou que apresentará seu voto já na próxima sessão, na quinta-feira (16).

Foto: Semcom/divulgação (creche) e DPE-AM (sessão do TJAM)

Post Relacionado

Defensoria obtém decisão judicial que determina a nomeação de assistidos aprovados em concurso público na Prefeitura de Juruá

blitzamazonico

Representante do BID no Brasil convida presidente da CNC para evento de sustentabilidade na Amazônia

blitzamazonico

Ação inédita da Defensoria leva mutirão do “Eu Tenho Pai” à Urucurituba

victoria Farias