Por Carla Santos T. Chagas – Cerocaamazonense | 11 de julho de 2025
Todos os anos, os ciclos de sol e chuva se repetem no Amazonas. No chamado “verão amazônico” com temperaturas que ultrapassam os 40 °C, o calor extremo tem sido apenas uma das faces de um problema mais grave: a fumaça tóxica resultante dos incêndios descontrolados que afetam Manaus e sua região metropolitana.
Na última terça-feira, 8 de julho, o prefeito reeleito, David Almeida, anunciou a Campanha de Prevenção às Queimadas, com o uso de drones e tecnologias para detectar focos de calor. A iniciativa é positiva e necessária. Mas, como cidadão manauara há quase duas décadas, não posso deixar de questionar: será que estamos apenas assistindo a mais uma ação midiática, ou enfim veremos medidas eficazes e duradouras?
Na noite de quarta-feira, 9 de julho, enquanto estava em minha rede na varanda do 12º andar, lendo ou assistindo vídeos como de costume, senti novamente o cheiro sufocante da fumaça. Um odor familiar e incômodo, que desde 2022, entre os meses de julho e novembro, tem se tornado parte da rotina dos manauenses. Uma tragédia ambiental anunciada, que vem se repetindo ano após ano, afetando a qualidade do ar, a saúde da população e o nosso direito constitucional a um meio ambiente equilibrado.
Diante disso, não é exagero perguntar: vale a pena (vi)ver de novo?
A campanha da Prefeitura, embora bem-vinda, não será suficiente se não contar com o comprometimento efetivo de toda a sociedade e das instituições públicas. É fundamental que o Ministério Público do Amazonas, o Corpo de Bombeiros, o Judiciário, o Governo do Estado do Amazonas e os órgãos ambientais estejam alinhados e atuantes. Sem uma fiscalização rigorosa, aplicação de multas e responsabilização penal dos infratores, tudo pode se tornar apenas mais uma peça de marketing institucional.
Precisamos saber: haverá apenas ações educativas ou também repressivas? Quais canais de denúncia estarão disponíveis para que o cidadão possa colaborar em tempo real? Os focos de incêndio, pequenos ou grandes, serão devidamente combatidos? E, sobretudo, o Ministério Público estadual agirá com firmeza diante dos crimes ambientais que colocam em risco milhares de vidas?
A população de Manaus tem em mãos uma decisão crucial: continuar aceitando esse “novo normal” de ar irrespirável ou exigir ações concretas. Queremos um futuro sustentável ou seremos “gente hipócrita e estúpida”, como cantou Gilberto, diante da própria destruição?
A mudança pode começar agora — ou teremos que, reviver tudo novamente?