Voltada à produção de um espetáculo teatral, a iniciativa está sendo desenvolvida com socieducandos que cumprem medidas no Centro Dagmar Feitoza, em parceria com a atriz e produtora Bita Catão
Focando a ressocialização dos jovens que cumprem socioeducativas determinadas pelo Poder Judiciário, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) deu início, no mês de outubro, ao projeto “Pupa”, que utiliza a arte cênica como instrumento de resgate. A iniciativa está sendo desenvolvida no Centro Socioeducativo Assistente Dagmar Feitoza, localizado na rua Vivaldo Lima, bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste de Manaus.
Com uma peça teatral marcada para ser encenada no 27 de novembro, os 15 socioeducandos terão a oportunidade de se apresentar no palco do Teatro Gebes Medeiros, no Centro Histórico de Manaus. A apresentação especial e inédita será assistida por servidores e membros da DPE-AM, além dos familiares dos jovens.
A ideia é que a peça retrate as histórias dos internos e que envolva todas as etapas de um espetáculo, com os atores, músicos, coral, figurinistas e criação de cenário.
Transformação
A defensora pública Monique Cruz, uma dos coordenadoras do projeto, explica que nome Pupa é inspirado na fase de vida de alguns insetos que sofrem transformação entre estágios imaturos e maduros. “A fase entre a lagarta e a borboleta, aquela do casulo, tem tudo a ver com a situação dos meninos, o público-alvo do projeto, que estão em comprimento de medida de internação e que almejam uma nova vida lá fora”, disse.
Conforme Monique, o Pupa surgiu durante as palestras do programa “Ensina-me a Sonhar”, que visa proporcionar ações afirmativas que contribuam com o desenvolvimento social de socioeducandos, também realizado pela Defensoria Pública no Dagmar Feitoza.
“No início do ano, tivemos a oportunidade de trazer para uma palestra o ator amazonense Adanilo Reis e percebemos que os meninos se interessaram muito por essa área do audiovisual. Pelas matérias que foram divulgadas no Instagram da Defensoria, a atriz e produtora Bita Catão entrou em contato conosco. Conversamos com ela e surgiu a possibilidade fazer o projeto”, explica a defensora.
‘A arte salva’
Idealizadora do projeto e preparadora do elenco, a artista amazonense Bita Tikuna Catão conta, emocionada, sobre a oportunidade de poder colocar em prática a arte como instrumento de resgate e direcionamento de vida aos socieducandos. Com roteiro em andamento, ela também destaca os desafios de colocar cada participante como ator principal do espetáculo.
“Temos esse desafio de conseguir fazer um espetáculo com a próprias histórias deles. Eles têm que ser os protagonistas da história. A arte muda a pessoa querendo ou não. Me emocionei ao ver todos aqui. Eu não faço questão de saber o motivo pelo qual estão cumprindo as medidas. Para mim, daqui em diante. Temos que dar oportunidade e percebo que há diversos adolescentes que têm muito talento. Estou bem grata por estar vivendo esse momento e sei que vai ser lindo”, disse.
Atividades
Os ensaios do Pupa acontecem às sextas-feiras, de 9h às 11h.Durante o período de atividades, o projeto deve receber participações especiais de profissionais ligados à arte e ao audiovisual.
Reconhecimento de palco, confecção de cenário, aulas de canto, dança, pausa para leitura, integram a agenda de atividades dos jovens atores que aspiram por uma oportunidade de melhorar a vida e viver uma nova história.
Acessando direitos e produzindo cultura
Para o diretor do Centro Dagmar Feitoza, Antônio Juracy, as ações que têm sido desenvolvidas pela DPE-AM na unidade são necessárias e urgentes para o processo transformador na vida desses adolescentes.
“Eu vejo a Defensoria Pública com essa visão no sentido de ver o adolescente acessando direitos, sobretudo a questão da cultura. O resultado é sensacional, que é o envolvimento deles nesse processo, passando até mesmo pelo autoconhecimento, porque eles estão nessa fase e a cultura permite isso. E também afirmo que isso oportuniza a dignidade humana, pois quando lhe é dada oportunidade, você floresce, vê a alegria de viver, o despertar, a esperança, que aparece nos gestos corporais”, disse.
Oportunidade
Além de Monique Cruz, participam do projeto, também como coordenadores, os defensores públicos Dâmea Mourão e o Eduardo Ituassú.
Na leitura do defensor Eduardo Ituassú, oportunidade é a palavra que define o projeto. A oportunidade de trilhar novos passos e de se descobrir em meio a novas atividades, diz ele.
“São garotos que não tiveram oportunidade em vários campos da vida, que não tiveram oportunidade de estudo e, quando olhamos a medida socioeducativa, nos preocupamos muito em oferecer cursos mais técnicos, que também são oportunidades, mas o que estamos oportunizando agora é um olhar diferente, um olhar através do mundo artístico”.
Além dos defensores e da equipe do Dagmar Feitoza, a iniciativa conta com a apoio da parte jurídica e assistência social da Defensoria Pública.
Novas experiências
Durante o projeto, os internos estão tendo a oportunidade de viver novas experiências, como a visitação ao Teatro Amazonas, proporcionando um contato mais direto com o universo da atuação. Além de conhecerem um pouco mais da história, riqueza e cultura representado por um dos maiores ícones do Estado, a visita mostrou ainda os bastidores de um mundo, até então desconhecido para eles.
“É bem legal vê-los tendo noção de como é pisar no palco, verem os bastidores, a famosa coxia (espaço de circulação não visíveis ao público, localizados nos extremos laterais e de fundo do palco, determinando o movimento de cenografia e acesso de atores). Acho que isso vai ser uma experiência bem legal para todos os envolvidos”, destaca a defensora Monique Cruz.
Com o olhar atento aos detalhes e animado com a apresentação, um dos adolescentes que participam do Pupa compartilha o sentimento de esperança por dias melhores. Para ele, atividades como o “Ensina-me a empreender”, “Ensina-me a sonhar” e “Projeto Pupa” têm sido potentes ferramentas de resgate e trabalham a autoconfiança.
“Nunca tinha vindo aqui (no Teatro Amazonas) e hoje, olhando aqui de cima, tendo a chance de conhecer novas possibilidades e fazer esses cursos, vejo que é possível ir para a vida lá fora com um novo pensamento, que a vida é difícil para a gente, mas não significa que não pode ser boa. Estou gostando do que temos feito e acho que isso ajuda muito nessa fase que estamos passando. Logo mais, espero que seja uma vida nova”, disse.
Foto: Allan Leão/DPE-AM