O terceiro dia do julgamento da pastora e ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza, acusada da morte do marido, pastor Anderson do Carmo, terminou em tumulto e quase levou à dissolução do júri, na noite desta quarta-feira (9).
A projeção de um trecho do livro Plano Flordelis: bíblia, filhos e sangue, da jornalista Vera Araújo, provocou revolta na defesa, que exigia a convocação da autora para confirmar se a advogada Janira Rocha, que defende Flordelis, havia manipulado testemunhas da família, conforme dava a entender um trecho da obra.
Caso a jornalista não fosse chamada para depor, o advogado Rodrigo Faucz ameaçou, na frente da juíza Nearis Arce, abandonar o julgamento, o que poderia levar à dissolução do júri. A atitude gerou uma interrupção superior a duas horas nos trabalhos.
A magistrada se negou a convocar Vera Araújo e impôs multa de 15 salários mínimos a cada um dos advogados, caso esses abandonassem o julgamento, o que levou a defesa a corrigir sua fala e voltar atrás, após uma reunião a portas fechadas. Por fim, a juíza classificou o episódio como um mal-entendido e marcou a continuidade do julgamento para a manhã desta quinta-feira (10).
Tumulto
O tumulto aconteceu um pouco antes do final do depoimento de Raquel dos Passos Silva, filha biológica de Carlos Ubiraci, filho afetivo de Flordelis, e neta da ex-deputada. Arrolada como testemunha de acusação, Raquel relatou as diferenças de tratamento dispensado a uma parte da família, dividida entre os mais e os menos privilegiados.
Em dado momento, quando ela falava sobre a participação da psicóloga Paula Barros, conhecida como Paula do Vôlei, na unificação das versões dos moradores da casa sobre a morte de Anderson, o Ministério Público (MP) projetou uma página do livro da jornalista Vera Araújo, sugerindo que havia participação da advogada Janira na instrução e manipulação de testemunhas, o que é ilegal.
“A advogada conta que, com a ajuda de Paula do Vôlei, usou a própria experiência de vida para persuadir algumas das filhas de Flordelis a tornar públicas as investidas supostamente promovidas pelo pastor. Para criar empatia, a advogada abordava o assunto com elas revelando que havia sofrido abuso por parte do avô aos 8 anos”, cita o livro.
Foi o que bastou para Janira se insurgir e negar veementemente que tenha, em qualquer momento, manipulado testemunhas, o que gerou a revolta nos demais advogados de defesa, em solidariedade.
Depoimentos
Antes dela, o primeiro depoimento foi de Luana Rangel Pimenta. Ela é casada com o ex-vereador de São Gonçalo Wagner Pimenta, conhecido como Misael, filho adotivo de Flordelis. Luana falou aos jurados sobre as tentativas de envenenamento das quais Anderson já havia sido vítima. Ela disse que já tinha visto Flordelis colocar substâncias no suco de Anderson, alegando que era uma forma de ele tomar os remédios prescritos por médicos.
Por mais de duas horas, Luana revelou informações sobre a família e sobre o dia do assassinato, em junho de 2019. Ela afirmou que não tinha dúvidas de que a sogra era a mandante do homicídio e que, nos dias seguintes à morte, os parentes tentaram se afastar de Flordelis, com medo.
O segundo a depor, como informante, foi Daniel, filho adotivo de Flordelis. Por videoconferência, ele se comoveu ao falar sobre Anderson e reconstituir os acontecimentos do dia do assassinato. Ele disse que estava dentro de seu quarto quando ouviu os tiros.
Assustado, foi ver o que tinha acontecido e encontrou a mãe gritando que tinham matado o marido.
Daniel, que disse que só soube que era adotado na delegacia, após a morte do pastor, contou que já havia escutado um plano para matar Anderson, mas que a ideia não tinha sido executada.
A filha afetiva Daiane de Freitas, terceira testemunha de acusação a prestar depoimento, lembrou que o pastor Anderson do Carmo sempre falou bem da esposa, até na igreja, para todos, sempre com muito carinho, com muito amor. Para os filhos, ele dizia: “A mãe de vocês, mesmo estando errada, ela está certa”. Segundo a filha afetiva, ele sempre colocou Flordelis acima de tudo.
Desde segunda-feira (7), foram ouvidas nove testemunhas de acusação: os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte, Regiane Ramos, o inspetor Tiago Vaz, os filhos de Flordelis Alexsander Mendes, chamado Luan, Wagner Pimenta, conhecido como Misael, Daniel de Souza e Daiane de Freitas e a nora Luana Pimenta, além de Raquel.
Fonte:https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2022-11/caso-flordelis-impasse-quase-dissolve-juri